ANALISANDO OS RELATOS POR UM NOVO PRISMA
Por Fco Aristides

Dentro dos procedimentos técnicos da ufologia, a coleta de depoimentos nas cidades e povoados na qual a “onda” predomina é a melhor forma de enriquecer a pesquisa.Esse texto se delimita a um único relato que possui uma rica teia de interpretações sobre o fenômeno UFO.

Antes de estudá-lo é importante entender sobre o significado de um depoimento.Nele, o ufólogo deve tentar abarcar a memória individual e coletiva nos “fatos” de um grupo ou realidade social, pois é a partir de um depoimento sobre supostos contatos ou avistamentos que se terá noção da percepção de realidade processada dentro dessa significação ou interpretação ufológica.

A entrevista “equilibrada e sem distorções” não traz resultados exatamente confiáveis, mas ajuda a preencher as áreas vazias na inquietação do pesquisador.È importante ter consciência que uma entrevista nunca é a verdade por excelência devido a uma série  de flutuações que ela sofre nas afirmações pouco consistentes do depoente ligado a várias crenças e enganos que se cruzam...Não é preciso desanimo e sim  trabalhar com as informações de modo correto.

Numa pesquisa realizada pela UPUPI  no dia 17-09-2005 em José de Freitas no povoado Vinagreira, segundo Flávio Tobler as aparições dos supostos engenhos são registrados no imaginário popular há 20 anos. Foi uma vigília planejada em investigar alguns casos dos moradores dessa região, fiquei encarregado de analisar o caso de Teresa Rocha de Jesus Oliveira; 61 anos. Entitularei  esse depoimento de: “ser de um olho”.

Conversando com essa senhora me veio um problema:como dar sustentação a um depoimento ufológico impregnado de crenças e tradições passadas através de uma cultura oral?É complicado pois ela afirma ver UFOs: “era como se fosse uma roda dentro da outra” - e diz que seu pai  na infância “profetizou” tais aparições e que os “bicho de um olho só” iam vir nesses objetos.

Aprofundando a conversa com Teresa descobri algo interessante : os seres de um olho na verdade foram figuras que seu pai lhe mostrou na infância que ela chama “almanaque Fontoura” – supostamente do fortificante Biotônico Fontoura, não achei informações da existência desse almanaque o que dificultou meu processo investigativo, deixando a pesquisa superficial e lacunosa.

Bem, seu pai mostrou essa imagem na sua infância [consistia de desenhos, possivelmente de seres de um olho] aos 8 anos e ela morava no mesmo lugar.A região é inóspita com nenhum sinal de povoamento denso e pobre em desenvolvimento.

O pai passava a informação aos filhos (década de 50) como meio de educação transmitindo uma carga que alimentava a mente de Teresa na qual ela até hoje guarda essas informações ao longo de seus 61 anos.

“Eles (UFOs) jogam uns “frok”-emissão de luz -que dá medo...”avisa um dos moradores de Vinagreira.O caso pode ser avaliado da seguinte forma: a visão dos UFOs  na região se cruzou com a configuração imagética transmitida pelo suposto almanaque dentro da família a partir de um regime conservador possivelmente patriarcal onde a significação da realidade da depoente foi estruturada por essa informação; sua memória apresenta uma formação simplista e periférica sobre o mundo  distorcendo seu avistamento ufológico com as imagens imbutidas em seu inconsciente.

E importante para a ufologia de aproximação científica se preocupar com os seguintes detalhes: Como vive o depoente?Sua instrução?Nível de coerência nas informações dadas no relato?
Nota-se que o depoimento é carregado  de símbolos e distorções não intencionais onde é preciso atenção na análise para que se parta do princípio da possibilidade: uma técnica para estudar o assunto numa perspectiva mais neutra e adotando o reconhecimento de que os UFOs são mecanismos  que podem existir e sempre atentar para as distorções relatadas verificando o assunto no âmbito do particular para o geral, por exemplo: ao analisar um depoente (Teresa-particular), o pesquisador atribui seu relato para compreender o imaginário popular( geral) daquela região estudada, no objetivo de tentar abarcar o fenômeno de forma mais geral,  é um método delicado mas é um risco que devemos correr.

Teresa (avistamento) +análise do depoimento+princípio da possibilidade(reconhecer as distorções do fenômeno e não partir de um ponto factual e sim de sua suposição)= formação de uma mentalidade ufológica.

È a primeira visita que faço à região, portanto é uma análise superficial, Teresa misturou sua memória com os avistamentos recentes gerando em outros dois moradores entrevistados uma sensação de medo pois acreditam nos “bicho de um olho só” e que um dia podem aparecer...A idéia do princípio da possibilidade é embrionária e questionada, mas já tenta tirar um péssimo vício e ingenuidade dos ufólogos que já partem do princípio que os UFOs existem e não pensam que a realidade é multifacetada e cheia de descaminhos.

Novas análises com esse método podem ser trabalhadas e assim veremos seu funcionamento. Agora deixo um problema aos ufólogos para que seja resolvido.Qual o sentido que esses relatos trazem ao fenômeno UFO?Dão variabilidade de entendimento?Amplia a pesquisa?Isso fica  a critério de cada um para reflexão e desenvolvimento de um debate entre os grupos em atividade.Deixo esse relatório aberto para questionamentos e críticas...

Francisco Aristides(acadêmico de história da UFPI, membro do grupo cultural APICE e pesquisador pela UPUPI).