Cartografia do medo no Maranhão: Propostas de uma arqueologia
ufológica mais eficaz
Por Aristides Oliveira
(Equipe upupi)
Impressões para uma metodologia ainda não definida: Enquanto a Ufologia internacional se encontra em largos e pomposos congressos, ufólogos brigam entre si em nome de status e visibilidade através de muitas denúncias e poucos estudos, lugares antes inexplorados na história da Ufologia nordestina agora estão sendo abertos e estudados com toda dedicação pela União de Pesquisas Ufológicas do Piauí (UPUPI). Aqui você confere com exclusividade novas regiões onde a casuística nunca foi vista no mapeamento dos estudos na área, com vídeos, relatórios mensais atualizados e artigos detalhados sobre a região atualmente analisada. GRATUITAMENTE.
Vale lembrar que a UPUPI tem um pequeno diferencial em relação aos outros grupos, os pesquisadores aqui envolvidos não são apenas ufólogos, que na maioria das vezes se prestam a lamentável postura de agir deslumbradamente nas evidências encontradas, elaborando toda uma construção discursiva inocente (na melhor das hipóteses), na velha fórmula do “vem-a-ser” da Ufologia, achando que tudo que se ver ou não se ver é artefato extraterrestre e que “não estamos sós no universo”, esparrela do clichê clássico onde estão inseridos os amadores e ufólogos de escritório.
Buscamos compreender o tema na pesquisa campal, indo ao ocorrido, através dos depoimentos das testemunhas (reconhecendo suas flutuações e desvios, já debatidos em pesquisas anteriores) e do reconhecimento in loco com uma vigília inicial, no qual são traçados os aspectos gerais que compõem o espaço da região, na tentativa de encontrar elementos que possam nos auxiliar a trilhar as pistas tortuosas e delicadas do fenômeno em sua particularidade.
Formado por pesquisadores de várias áreas, a pluralidade de prismas faz com que nós trabalhemos em torno de um ideal maior: a Ufologia. Nunca deixando de estar em contato com outros pesquisadores do cenário, estamos atentos ao que essa rica região tem a oferecer, infelizmente marginalizada pelos grandes centros de pesquisa no globo, é a UPUPI a grande responsável pela valorização da pesquisa de campo no Piauí e parte do Maranhão, longe de esoterismos e esquemas publicitários, acreditando sempre na perspectiva documental e com metodologia investigativa.
A pesquisa ocorreu no povoado Mandacaru (MA), interior de Matões, nos dias 05 e 06/07/2008, localizado aproximadamente a 74 km da cidade de Timon (MA), correspondendo ao trabalho realizado no Maranhão pelo grupo, por averiguar uma forte presença de supostos casos no Estado vizinho e de testemunhas que nos convidam a estudar a região. O local foi visitado pelo grupo com muitas dificuldades estruturais, principalmente as condições de transporte; o ônibus era precário, com bancos defeituosos e fora da capacidade de lotação, com passageiros em pé, arriscando a vida de todos de certa forma, pois a estrada não é asfaltada, com inúmeros buracos, o que torna a viagem mais longa e cansativa.
O grupo se desloca ao local às 8h30 do dia 05/07, com ameaças do ônibus em que estávamos não chegar ao destino planejado, mas depois de muita tensão que tornou a viagem estressante, foi possível chegar à parada final às 11h, depois tivemos que caminhar por 40 minutos de estrada areal até chegar ao ponto de pesquisa do povoado.
11h40: Fomos bem recebidos pela família de Joelson da Silva, que foi nosso guia e apoiou o trabalho na região. Logo após a chegada em Mancadaru, conversamos informalmente com os moradores para que fosse possível uma interação entre todos, o que propiciou uma comunicação gradativa e aproximada entre depoentes e pesquisadores, iniciando os procedimentos de entrevista com as testemunhas da região.
Para ter acesso às imagens das outras entrevistas realizadas pela UPUPI, você já pode assistir aos vídeos disponibilizados para download no nosso site, acessível para todos os interessados no assunto, pois a partir dos depoimentos das testemunhas é possível encontrar vestígios que configuram essa teia imaginária que povoam a versões de avistamentos envolvendo a temática ufológica. Não podemos ter certeza do que esses estranhos acontecimentos significam, mas seria um crime ocultar a voz de pessoas simples que afirma ter contato com esses tais objetos voadores não-identificados, algo que causa estranhamento entre eles e nós, pesquisadores que compartilham com as testemunhas a sensibilidade e angústia de não possuir ainda uma resposta definitiva para os supostos ataques e aparições, restando como alternativa a difícil busca do registro em vídeo para análise e verificação.
Enquanto a captação audiovisual não chega, não podemos desistir de investigar com as ferramentas que temos para informar a Ufologia com suas devidas aproximações com a ciência: através da constante experimentação metodológica e afinação dos estudos, para ser possível a sistematização de quadros de conversão problematizada e avaliada dos casos estudados em todo território (PI/MA) mapeado pelo grupo, para que seja possível uma explicação traduzível, porém não conclusiva do fenômeno.
Mandacaru é marcado pelo mistério de uma região isolada, vivendo basicamente de pecuária e agricultura, com uma média de 300/400 famílias morando em casas simples e vida pacata, onde cada grupo recolhe suas cabeças de gado às 18h do pasto solto, longe das “maravilhas tecno-informativas” da zona urbana, possuindo a TV como única ferramenta de luxo apenas em algumas casas. A convivência com o fenômeno já está bem familiarizada entre os habitantes, que transmitem para as gerações que se sucedem histórias das mais diversas sobre luzes misteriosas, perseguições, lendas envolvendo mulheres, animais estranhos que se manifestam no local e o medo de se deparar com tais manifestações pela noite.
As narrativas estão bastante imbricadas entre as lendas e a Ufologia, muitas vezes confundindo essas informações com a realidade UFO, tornando a pesquisa complexa, provocando um ruído que deforma sua clareza investigativa: estariam esses indivíduos mantendo um contato ufológico ou seria mais uma lenda popular misturada a uma má interpretação visual?
A experiência em Mandacaru esclarece a carência de conceitos para a operação desta e de várias pesquisas semelhantes na Ufologia como um todo, mas que não impede a percepção de uma formação rizomática da cartografia do medo nas localidades estudadas, que apesar de não nos trazer uma orientação ufológica definida, denuncia um não-lugar na Ufologia, que desafia os pesquisadores a escavar com mais profundidade dos relatos sua natureza ufológica. O que proponho é que devemos tomar consciência da falta de fixidez da Ufologia e que tudo o que possuímos é residual, desse modo é urgente que as limitações na pesquisa sejam usadas ao nosso favor, num constante exercício de entrevistas, vigílias e teorização pós-pesquisa mais aprofundada, evitando cair no relato pelo relato.
Os relatos colhidos em Mandacaru (que podem ser vistos na íntegra no site) participam da inconstância verídica de outros locais, mas convergindo em pontos comuns como: a denominação “aparêi”, típico no Nordeste, a crença de luzes que “sugam” o sangue das vítimas e o fato de que se acender qualquer objeto luminoso à noite eles “baixam” e atacam as vítimas, como locais tão inóspitos e distantes confluem?
As interseções em depoimentos orais, em vez de ser encaradas como meras coincidências, precisam ser problematizadas, pois a Ufologia não corresponde apenas a uma possível realidade extraterrestre, mas a um conjunto de eventos obscuros que precisam de imediato ser revelados entre nós, vítimas do mosaico de impressões esquemáticas que limitam o nosso ver, empobrecendo as perspectivas de análise.
O não-lugar da Ufologia está em cada um de nós, assim como a localidade Mandacaru é um entre milhares de pequenos focos de incidência perdidos na cartografia mal escavada pelos nossos instrumentais dispersos, nesse vasto e incompleto território que não conhecemos em sua completude. A casuística precisa ser unificada, não catalogada e simplificada para o conforto e falsa certeza de uma Ufologia que ainda não tem forças para se sustentar.
Aristides Oliveira, membro da UPUPI.
Ensaio escrito em 12/07/2008