La Planete Sauvage e a busca de nossas ilhas desconhecidas: não seria a Ufologia o compartilhamento de solidões coletivas?

 

Ufólogo: indivíduo solitário na busca de explorar SEU planeta desconhecido.

 

 

            A selvageria provocada pela intensa uniformização do Ser nos leva a trilhar inúmeras rotas de fuga como meio de confrontar a consciência com a matança excessiva. O mass media e as instituições religiosas avassalam e emburrecem cotidianamente os corpos que se disciplinam nas agulhas da ordem objetivando a condição de comportamento compatível com o status quo. As linhas diagonais e a cartografia sentimental se estreitam rumo à desnutrição dos vazios inventivos (esse como elemento gerador da criatividade e subversão individual) e consolidação inexorável do distúrbio cósmico. A partir desse distúrbio os homens passam a miserável condição cristã, criadora de um discurso que lapida a aresta da pluralidade espiritual (referente à possibilidade de voar...), prescrevendo a crença monolítica e imutável de um “Deus” inacessível onde muitos acreditam através de rituais diversos terem uma aproximação desse objeto construído discursivo-imageticamente.

            Nesse massacre, sobrevivem poucos indivíduos que se unem e mantém uma aliança para ir de encontro com outras formas de apreensão da realidade, mas será que estamos dentro dela? Será que a busca coletiva pela verdade (se do ponto de vista ufológico estiver correto) não seria o compartilhamento de inúmeras solidões mal resolvidas? Estaríamos realmente fugindo da guerra midiática massificadora ou criando redomas impermeáveis?

 

Seria o ufólogo um extraterrestre forasteiro que conspira e subverte contra o estabelecido?

 

            A partir da união, mesmo com divergências, encontramos a chave que abrem os desertos solitários de cada um, brotando um novo mundo, o Planeta Fantástico. Os ufólogos que praticam seu ofício (não de pesquisadores de internet ou de escritório) nas vigílias sabem de suas metas particulares de modo que cada um direciona o olhar rumo ao seu coração, ao planeta que deseja encontrar, ao sonho a ser realizado e a meta a ser atingida tornando a vigília uma experiência de evolução única.

 

 

Vigília: momento de interiorização e libertação do deserto particular. A busca pelo Planeta Fantástico.

            A internalização é de fato uma redoma, coberta por uma membrana de constituição não compreendida pelos estudiosos, outro aspecto desconhecido é como se dá essa conexão (não se sabe se ela é poética ou espiritual), pois cada catalisador tem um código indecifrável devido à exploração desse deserto ainda não ser possível na sua totalidade.O Planeta Fantástico é uno e plural. Vivemos por ele e para ele.

 

  

O momento da conexão: forasteiros isolados, unidos por uma busca, uma territorialidade.

Uma membrana de origem desconhecida forma um novo citoplasma, que se coletiviza

e atrai o Planeta Fantástico.

           

            Esse Planeta, apesar de ser conhecido por cada um, não possui um lugar fixo, não há um consenso, pois ele está em todos os lugares: os interiores da Ufologia. A verdade não está lá fora e sim em cada um de nós, extraterrestres de nossa própria Terra, que observa sem poder reagir ao esfacelamento do Homem, da história e da confraternização. O Planeta Fantástico é nosso espaço de cópula intelectual, de nos abraçar e promover um pouco de esperança para nós mesmos, um delicado egoísmo que diferencia e separa a consciência cósmica da brutalidade monoteísta.

 

Consciências estilhaçadas: não há como reagir, é uma ação individual.

 

            O momento é de reflexão, pausa, autoconhecimento. O maior desafio da Ufologia, antes de querer descobrir vida em outros planetas é tentar descobrir onde está os planetas que habitam o próprio Ufólogo, qual a chave que promove a conexão dos desertos individuais para o compartilhamento das inquietações coletivas e saber pousarem no Planeta Fantástico que existe em cada um de nós, fugitivos, extraterrenos e portadores de uma verdade ainda incompleta para ser revelada.

 

 

            A chegada ao Planeta, nós também criamos nossas verdades como uma meta de alertar os outros para a evacuação próxima, a angústia maior do Ufólogo é a busca pelo ideal, esse ideal é a esperança de um mundo melhor que se completaria a partir da habitação de outros territórios, estes localizados em suas mentes.

            Continuemos, sem perder a esperança de denunciar pelas entrelinhas a incompetência cósmico-existencial dos homens disciplinados pela cirurgia da estupidez promovida pelas empresas contra-informativas. As mentes ufológicas estarão em plena vitalidade, cada um em seu Planeta Fantástico , unidos pela membrana desconhecida da Ufologia, que formam planetas internos que se comunicam e formam um universo novo a cada confraternização humana. “A solidão é um deserto extremamente povoado”, já dizia Deleuze.           

 

 

 

Ensaio escrito em 20 de janeiro de 2008 por Aristides Oliveira

Integrante da UPUPI (União de Pesquisas Ufológicas do Piauí).

 

Créditos:

Imagens do filme La Planete Sauvage , de René Laloux (França, 1973)