Experiência Mandacaru:Abordagem em campo como instrumento de coleta
*Por Flávio Tobler e Aristides Oliveira
1. O cenário pesquisado- Realizada
a partir de julho de 2008, a União de Pesquisas Ufológicas do Piauí
(UPUPI) disponibiliza mensalmente aos usuários um variado conjunto de
produtos audiovisuais voltados exclusivamente ao estudo e prospecção de
dados orais em Mandacaru, região localizada no Maranhão (interior de
Matões) à aproximadamente 75 Km de Teresina (PI).
Desde o início da pesquisa, iniciada pela sondagem no local, os membros
da UPUPI (atualmente composto por Denes Filho, Aristides Oliveira, Igor
Patrik,Flávio Tobler e Mardônio Jr.) dedicam-se exaustivamente no registro de
relatos no local. Depois de passar por Miguel Leão, Pau D’arco,
Gameleira, Buraco d’água, Agricolândia, Nazaré do Bruno, Castelete,
Lagoa do Piauí entre outras localidades, buscamos em Mandacaru mais
informações possíveis para contribuir com o cenário da Ufologia
brasileira.
A
operação é bastante delicada na pesquisa em Ufologia de campo, pois
nunca podemos determinar o ponto de equilíbrio entre o fato (se é que
ele ocorreu, devido às inúmeras chances de engano visual, mentira ou
pânico) e a ilusão do observador que, após um longo período de
experiência com o fenômeno (sendo ele não-terrestre ou natural) relata
aos pesquisadores o ocorrido.
Nesse sentido, trabalhamos na captura das informações não para
“filtrar” sua condição de veracidade-pureza-prova, mas na constatação
que existe uma composição de textos, imagens, lembranças e experiências
ainda desconhecidas pela Antropologia, Ciências Sociais, Astronomia,
campos da ciência (rigidamente acopladas em suas cátedras
universitárias) que infelizmente ainda não abriram os olhos para
investigar o motivo de tantas comunidades relatarem o convívio quase
direto com manifestações supostamente extra-sensórias.
Infelizmente colocadas pelo mass media
como atividades “folcloristas” ou de “loucura coletiva”, a UPUPI, bem
como poucos grupos de pesquisa de campo, trabalham para descortinar o
assunto e dar espaço e voz as pessoas de condições sociais e instrução
educacional das mais precárias. Isoladas do apoio sistemático de
instituições municipais/estaduais, presenciamos um grupo de pessoas que
trabalham na pecuária extensiva e agricultura de subsistência (em sua
maioria), que vivem de forma digna e em convívio direto com a
coletividade.
É
importante reconhecer as condições sócio-culturais dos habitantes da
região a fim de esclarecer o cenário pesquisado, pois se tomarmos o
registro e experiência ufológica de modo isolado, fica impossível
mostrar os traços gerais que compõem a paisagem a ser analisada.
Desse modo, priorizamos nos registros em vídeo expostos aqui há 10
meses de estudo, cenas do cotidiano e a textura campestre que rodeia o
ambiente que, apesar das críticas negativas de alguns usuários (bem
como pessoas que ainda desconhecem essa tendência ufológica) do site em
afirmar que fazíamos exposição gratuita da ruralidade dos moradores, é
preciso deixar claro que, o modo de experimentação audiovisual
realizada por estes autores valoriza catalogar não somente as
informações de caráter supostamente ufológico, mas conectar aspectos
conjunturais, paisagísticos e as práticas de sociabilidade destes
moradores à atmosfera residual de experiências do passado envolvendo
sensações não-convencionais no dia-dia dos mesmos.
O medo e a certeza de que algo anormal convive com os moradores de
Mandacaru é bastante visível na reação e narrativa das incontáveis
histórias vivenciadas pelo grupo:
“Ele
vinha de lá (...) aí ele colocava aquela “luizona”, um pouco ele
desaparecia de lá, aí ele vinha bem pra perto, jogava a luz (...) era
‘amarelosa’, verde e vermelha (...) ele vem perto ‘mermo’, mas ninguém
enxerga, só enxerga a luz (...) incandescente...a verde não, mas a luz
branca e essa ‘amarelosa’ chega dói na vista da gente, e a branca
principalmente...Rapaz, eu vou que eu vi gente, é perigoso ” (Raimundo
Alves)
As vigílias são de suma importância para alargar os horizontes de
expectativa dentro de nossos objetivos, pois ao realizar a 1ª etapa de
pesquisa com os moradores - entrevistas - e ao nos atualizarmos das
recentes histórias que aparecem ou que não foram possíveis de ser
coletadas na investigação anterior, nos distanciamos da região e
subimos os morros próximos para que seja viável uma visualização
noturna a fim de que a “loteria” de um avistamento seja materializada
por nós.
Tivemos
várias visualizações estranhas não esclarecidas, pois não houve
registro devido à longa distância que impediu as câmeras de realizarem
a captação, ou pela rapidez do evento manifestado, o que aprofundam as
lacunas e aumentam as dúvidas a respeito da casuística estudada.
Várias histórias nos remetem a contatos próximos com a tal “luz”, que
segundo os depoentes (dados convergentes) se aproxima, faz movimentos
inexplicáveis, “cega” a vista e gera pânico no presente momento de sua
manifestação. Percebe-se nas entrevistas que tais experiências ainda
não foram superadas, vistas com distanciamento defensivo e trauma,
lembranças que, ao serem ativadas pelo coletor que media o registro em
vídeo, volta a estabelecer a tensão vivida pela testemunha:
“O
rosto dele é redondo, da ‘cabeçona’ e ‘baixim’ ‘pequininim’, todos dois
‘empariado’ (...), eles andavam com duas roupas, uma estampada e outra
azul. Eu vi...de “pertin”. Eles olhando pra mim, botaram a luz e eu
disse: ‘arrego’!...falaram lá e fizeram um sinal com o outro aí na hora
que ele ‘botô’ a luz eu me ‘aburrici’, desci de pau a baixo aí corri
(...) Eu fiquei todo anestesiado, fiquei todo ‘fri’ assim (...) dá
choque na pessoa (João Batista).
O que podemos confirmar? Que métodos podem ser usados? Que atmosfera
cerca as regiões através das quais o fenômeno UFO se define?
Ufologia: um inventário de dúvidas e exercício de busca da resposta aproximada.
2. A constante busca- Não
há evolução na ufologia sem pesquisa-entrevista-vigília. Esse
pensamento já é bastante materializado dentro do grupo. Acreditamos que
através deste triplo exercício, existe a possibilidade de encontrarmos
fragmentos necessários que poderão nos dar um dia respostas que se
aproximem na elucidação destas manifestações. As teorias são
primordiais, mas as incursões dos pesquisadores in loco formam o alicerce destas construções.
Mesmo que por longo tempo não passem do campo teórico, somente desta
forma, entre erros e acertos, usando a criatividade, persistência e
determinação, poderemos descobrir mesmo que exaustivamente os métodos
necessários a serem empregados na busca de respostas satisfatórias.
Vivemos num mundo capitalista, e nos deparamos inúmeras vezes com
obstáculos rotineiros na vida dos pesquisadores.
Somos impedidos muitas vezes, não por entender que é difícil o
descortinamento do fenômeno, mas por não ter aceso as ferramentas
essenciais que poderiam nos aproximar destas manifestações mais
recentes. Em muitos casos, as informações chegam, mais só temos acesso
a região tardiamente. Essa linha do tempo imaginária, onde estes
possíveis objetos estão sempre um passo a frente, coloca-nos somente no
acompanhamento dos “rastros” de suas incursões. Restando como
alternativa a entrevista, os detalhes catalogados destas ocorrências, o
mapeamento da região e o lotérico registro.
Mandacaru vem se somando a tantas outras localidades pesquisadas. Os
relatos de seus moradores indicam que o fenômeno criou raízes. Estas
passadas a gerações seguintes. O aumento da casuística coincide com
período (década de 80) onde outras localidades foram palco de
incontáveis incursões em todo Brasil. Indicando haver uma provável
“onda’ ufológica.
Existem estudos que indicam que estes aparecimentos são cíclicos, mas
somente o tempo reforçará esta tese. O mais curioso é que temos
observado a presença constante de fatores que contribuem para o
distanciamento destas ocorrências. O primeiro é sobre a evolução da
própria região.
A Rede elétrica e a urbanização favorecem para a escassez dos
avistamentos. Outro é a mentalidade dos moradores que passam a ter
conhecimento e alguns esclarecimentos sobre estes possíveis objetos
pelos meios de comunicação, entre eles a televisão.
A sistematização das viagens dos pesquisadores a uma determinada
região, parece contribuir também para isso. Mesmo que ainda
superficialmente e necessitando de estudos mais aprofundados. Não temos
certeza, mais de alguma forma e ainda não compreendida, estas incursões
ou manifestações desconhecidas são incompatíveis com nossa presença
constante.
Questionando as testemunhas sobre estes estranhos aparecimentos, quase
na totalidade não sabem explicar e nem imaginam sua procedência. Parece
que quanto maior é a falta de esclarecimento do assunto somado ao
isolamento dos grandes centros urbanos, maiores são as possibilidades
de ocorrer experiências incomuns.
Em
Mandacaru, os relatos não diferenciam-se destes pensamentos. Não temos
fatos ocorridos com maiores consistências aos moradores depois de nossa
chegada. Os depoimentos colhidos seguem a normalidade tempo-espaço,
onde cada entrevista se encaixa como uma página seguinte desse enorme
quebra-cabeça. A própria experiência vivida por alguns membros do
grupo, embora curta, reforça a tese da incompatibilidade de
pesquisadores+região=avistamentos.
Mesmo
que em algumas vezes exista a possibilidade de ocorrências, a incerteza
devido ao curto espaço vivido e a inconstante manifestação gera mais
perguntas do que respostas. Outro fator são as vigílias. Realizadas
apenas numa única noite por viagem de campo.
Grande
parte da humanidade vive olhando para o próprio umbigo, e somente
diante de ações catastróficas e de grandes descobertas é que tem um
novo foco. O esclarecimento do fenômeno ufológico pode trazer respostas
definitivas para a melhor compreensão do universo que nos cerca. A
princípio vai desencadear incontáveis questionamentos, mas o que antes
parecia distante e inconcebível, passa a descortinar uma nova etapa da
evolução humana no Planeta Terra. E se isso um dia ocorrer,estaríamos
preparados?...
3. Perspectivas do grupo na região -
Os trabalhos em Mandacaru não se encerram pelo presente texto,
continua. Os depoimentos, as vigílias, e todas as jornada pode ser
vista nos vídeos disponibilizados no site. Essa primeira etapa tenta
mostrar as impressões iniciais do grupo naquele povoado.
Nunca
havíamos produzido tantos vídeos para uma única localidade. Quando não
se pode alcançar novos horizontes por questões diversas, amplia-se o
que está a sua volta, e isso nos motivou a persistir. Quando ainda não
se tem “fósforo” para iluminar uma grande fogueira, o “atrito das
pedras” fazem sua parte.
O
processo é demorado, exaustivo, leva tempo, mas nos apresentam noções
de que a fenomenologia UFO ainda está longe de ser alcançada, pois a
matéria-prima do pesquisador é basicamente fragmentos, retalhos de
incertezas e memórias cheias de fios que precisam ser conectados com
delicadeza e paciência. Pena que alguns integrantes do grupo existentes
pelo caminho tropeçaram na jornada, algo bastante comum na Ufologia.
Não
sabem estes que a curva que a estrada do destino se mostra a frente,
pode ser o final da caminhada. Outros persistentes usam estas “pedras”
como instrumento de coleta na passagem de um novo tempo, um novo olhar
para nós mesmos e a ufologia.
Mandacaru
até hoje nos marca, a experiência não acabou. Nos fez aprender que a
pesquisa regional é um meio para construirmos “noções” sobre a Ufologia
como um todo, que, segundo o historiador José Barros podem funcionar
como “tateamentos na elaboração do conhecimento científico, atuando à maneira de imagens de aproximação de um determinado objeto de conhecimento (imagens que, rigorosamente, ainda não se acham suficientemente limitadas). Muitas vezes as noções são resultados de uma descoberta progressiva, de experiências, de investimentos criativos de um ou mais autores que podem ou não ser incorporados mais regularmente (...). Com o tempo uma “noção” pode virar um “conceito”,
à medida que adquire uma maior delimitação e em que uma comunidade
(...) desenvolve uma consciência maior de seus limites (...). Os
“conceitos”, pode-se dizer, são instrumentos de conhecimento mais
elaborados, longamente amadurecidos (...)”.
Desse modo, as teias lentamente se conectam em longo prazo, para que as
primeiras clareiras apareçam ao pesquisador, que costura os retalhos e
investiga qual o melhor pano para bordar sua teoria. Mandacaru é um
micro-contexto que se alia ao macro da Ufologia nacional.
As noções que estamos buscamos há quase cinco anos sobre os
avistamentos no Nordeste é um passo metodológico curto, gradual, que
dará num momento ainda incerto, os conceitos necessários para ir à
frente das respostas relacionadas ao tema. Não sabemos se “naves” ou
“homenzinhos verdes” nos rondam, mas temos certeza de que só teremos
respostas sólidas olhando para nossos pés.
* Flávio Tobler e Aristídes Oliveira são membros da UPUPI.
Contatos:
flaviotobler@hotmail.com ou Aristideset@hotmail.com